segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

FELIZ ANO NOVO, FELIZ AMÉRICA NOVA - YES WE CAN

DISCURSO DE BARACK OBAMA
O discurso YES WE CAN

It was a creed written into the founding documents that declared the destiny of a nation.Yes we can.

Havia um credo inscrito nos documentos fundadores que declararam o destino de uma nação – Sim, nós podemos!

It was whispered by slaves and abolitionists as they blazed a trail toward freedom [through the darkest of nights]. Yes we can.

Era sussurrado por escravos e abolicionistas enquanto iluminavam uma trilha em direção à liberdade [por entre as mais sombrias trevas das noites] – Sim, nós podemos!

It was sung by immigrants as they struck out from distant shores and pioneers who pushed westward against an unforgiving wilderness. Yes we can.

Era cantado pelos imigrantes enquanto enfrentavam desafios a partir de portos distantes e pelos pioneiros que empurraram os limites contra o oeste duro e inclemente – Sim, nós podemos!

It was the call of workers who organized;

Foi o chamado dos trabalhadores que se organizaram;

women who reached for the ballot;

mulheres que conquistaram o voto;

a President who chose the moon as our new frontier;

um Presidente que escolheu a lua como a nova fronteira;

and a King who took us to the mountaintop and pointed the way to the Promised Land.

e um [Rei] King que nos levou ao topo da montanha e apontou o caminho para a Terra Prometida.

Yes, we can to justice and equality.

Sim, nós podemos: para justica e igualdade Yes, we can…Sim, nós podemos...

Yes, we can to opportunity and prosperity. Yes, we can to opportunity and prosperity.


Sim, nós podemos: para oportunidade e prosperidade. Sim, nós podemos: para oportunidade e prosperidade.

Yes, we can heal this nation.

Sim, Nós podemos curar esta nação.

Yes, we can repair this world.

Sim, Nós podemos consertar este mundo.

Yes we can. Yes we can…

Sim, nós podemos. Sim, nós podemos...

We know the battle ahead will be long, but always remember that no matter what obstacles stand in our way,

Nós sabemos que a batalha à frente será longa, mas sempre lembrem que no importa quantos obstáculos estejam à nossa frente,

nothing can withstand the power of millions of voices calling for change.

nada pode resistir ao poder de milhões de vozes clamando por mudança.

[WE WANT CHANGE… I want change…]

[NÓS QUEREMOS MUDAR… Eu quero mudar…]

We have been told we cannot do this by a chorus of cynics who will only grow louder and more dissonant in the weeks to come.

Um coro de cínicos, que será cada vez mais alto e mais dissonante nas semanas que virão, tem nos dito que não podemos fazer isso.

We’ve been asked to pause for a reality check. We’ve been warned against offering the people of this nation false hope.

Pediram-nos uma pausa para conferir a realidade. Fomos alertados contra oferecer ao povo desta nação uma falsa esperança.

But in the unlikely story that is America, there has never been anything false about hope.

Mas na história improvável que é a América, jamais houve algo falso quanto à esperança.

that the hopes of the little girl who goes to a crumbling school in Dillon are the same as the dreams of the boy who learns on the streets of LA;

porque as esperanças de uma menininha que vai a uma escola degradada em Dillon é a mesma que os sonhos do menino que aprende pelas ruas de Los Angeles;

we will remember that there is something happening in America;

nós lembraremos que há algo acontecendo na América;

that we are not as divided as our politics suggests;

que nós não somos divididos como nossa política sugere;

that we are one people; we are one nation;

que nós somos um povo; que nós somos uma nação’;

and together, we will begin the next great chapter in America's story with three words that will ring from coast to coast; from sea to shining sea – Yes. We. Can.

e juntos, nós começaremos um novo grande capítulo na história da América com três palavras que faremos soar de costa a costa, de mar a mar brilhante – Sim. Nós. Podemos.

Yes. We. Can. Sim.

Nós. Podemos.


Agradecemos a generosa tradução da Professora Roseli Fishmann

Extraído so site Géledes

FELIZ ANO NOVO A TODOS, FELIZ AMÉRICA NOVA, FELIZ NOVA ORDEM PARA O MUNDO. MAIS UMA VEZ IREMOS EM DIREÇÃO AO SOL COM A ESPERANÇA DE UM MUNDO MELHOR.

ATÉ 2009.

DÉBORA ALMEIDA



quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

apesar de

"... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, espararei quanto tempo for preciso."
Clarice Lispector

A diferença é que eu não consigo esperar e por isso não o faço.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

estou cheia de ódio

ódio para os que gritam na prepotência de humilhar aqueles que estão ao seu redor, seja por estar aparentemente em uma posição privilegiada ou por aparentar ser o mais forte, seja por ser machista e desconsiderar as mulheres, ou por ser adulto e não relevar as crianças
ódio ao racista que não aceita ao negro e ao patrão que desrespeita o empregado
tá em cima aquele que teme os de baixo
tá na base aquele que tem a percepção
ódio, morte, fogueira
estou farta de quem acha que tem o poder e o utiliza ao seu bem querer, de quem pensa que o dinheiro compra o respeito e vende a impunidade
ódio ao que reza pela extinção do próximo e por aquele que utiliza o discurso alheio como instrumento de manipulação
tenho uma lista inteira dos que compraram o meu ódio, dos que me causam ojeriza, dos que eu execro a existência

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Meu pedaço


Estou lendo um livro que está me devorando, me consumindo, não sai da minha pele e dos meus olhos nem quando eu não o leio, e só ainda não terminei porque na viagem de volta eu estava cansada demais e muito tocada por ter estado mais uma vez com a minha família.

Eu amo desarvoradamente, incondicionalmente,irracionalmente, a minha família. É de lá que eu venho e pra onde volto quando estou triste ou feliz, vazia ou cheia, na felicidade ou no desencanto. Não sei como é a vida de quem só conheceu o desamor, pois com os meus eu me sinto amada a cada milionésimo de vida.

Fui ao aniversário do meu primo-irmão-afilhado Franklin. Eu amo o Franklin, crescemos juntos, eu , ele Daniela e Flávio e de dentro de mim só sai muito amor pra eles. Metade do que eu sei eu devo a eles, minhas alegrias, esperanças, ilusões de criança, tudo. Das brincadeiras de pipa e super heróis aos chutes e ponta-pés. Do apelido que eu odiava, do meu mau humor, dos sorrisos. Ai... Reinávamos os quatro com as nossas fantasias e brigas, sempre juntos.

Meus tios e tias, primos mais velhos, avó, mãe, pai! Família é um dom de Deus, quem recebe não quer largar.

Família é espelho, beijo e cicatriz, é muita história pra contar.

Referencia pra lucidez.

E aí, vem a Ponciá, eu acho que eu não quis ler na volta porque ela tem e não tem tudo aquilo que eu falei e sofre por isso, pois não consegue reencontrar os seus, perde o seu espelho. Só se encontra na arte.

Na minha família todo mundo é artista, mas cada um escolheu um palco pra atuar.

Quero muito entrar em cartaz com eles sempre, não quero o braço cotó de Ponciá. Quero ficar com o meu pedaço.

Amo desesperadamente Ponciá. Ela fala dos negros, da mulher e da arte. Fala da falta do espelho e faz refletir sobre o que realmente importa. Amo Conceição Evaristo que conseguiu transpor para as páginas de um livro a falta e o sabor da vida.

sábado, 8 de novembro de 2008

olá,como vai?


Há muito tempo não escrevo aqui. Ai, são tantas emoções, tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que só tenho escrito na agenda.
Viagem com a Comuns, crise de coluna, estréia de alunos, prova de figurino. Ainda bem que, tirando a crise de coluna, todo o restante é por coisa boa.
Mas estou com saudades da minha tela cor de rosa, das minhas borboletinhas, de vir aqui escrever minhas coisinhas. Tive muitas inspirações, mas nenhuma caneta na hora e agora as inspirações já se foram.
Também estava impossibilitada de ficar muito tempo sentada, as costas doíam muito, e ainda doem, e por isso só ficava na frente da tela tempo suficiente para ler e enviar e-mails.
Passado o pior da crise, graças a muitas agulhadas de acupuntura, já estou eu aqui de novo pronta para escrever minhas impressões sobre a parte do globo terrestre que ocupo e observo.
E nesse momento pacato dessa manhã de sábado, vou observar a orla de Copa, sair com minha bicicleta pela ciclovia e ouvir o xuá das ondas. Saudades do Rio, do meu canto, dos momentos de contemplação. O trabalho pode tentar roubar esses momentos da gente, mas se soubermos fazer tudo direitinho ou pelo menos tentarmos nunca deixaremos de lado o que realmente importa: os momentos de parada, os momentos de contemplação.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Meu tempo

Algumas expressões me irritam muito, uma delas é "meu tempo". A maioria das pessoas vai ao terapeuta para aprender a pensar mais em si, mas há outras que deveriam ir para pensar mais nos outros. Que saco. É meu tempo pra cá, meu tempo pra lá. É incrível o tamanho do umbigo de certas pessoas! Pensam somente em si, não fazem nada para ajudar os outros e quando têm um problema o mundo tem que parar para esperá-los. Não digo que não podemos ajudar os outros, mas para algumas pessoas, ser ajudado, estar com a cabeça cheia, é um vício. Do primeiro ao último lugar da fila só cabem elas. "Não fiz isso porque estou som problemas", "eu vou fazer no meu tempo", "eu, eu, eu"! O mundo tem que respirar por elas.
Ai,é chato ter que conviver com gente assim.
E geralmente, essas pessoas são aquelas que mais cagam regras. Têm resposta pra tudo e gostam de espalhar aos sete cantos o quanto são boas com os outros. Acho que é pra ver se elas mesmas acreditam nisso.
Estou cansada desse tipo, que só posa, só vampiriza. Tira as nossas energias e fica em cima do muro espiando qual vai ser o próximo pescoço a receber a mordida.
Vou andar com alho pendurado no pescoço e pedir a São Jorge que me proteja dessas coisas, pois há muitos exemplares desse tipo no mundo.
E o mais doido de tudo é que elas cobram dos outros aquilo que elas não são.
Tem gente perdida mesmo.
Bússolas pra esse povo!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Silêncio






Estamos de volta, mais felizes do que nunca, mais barulhentos e com muita vontade de dizer as coisas. O primeiro ponto será Brasília, 18 e 19 de outubro, depois Recife, em 24 e 25(não iremos votar), e em novembro, Salvador.

Fazer teatro é bom pra caramba!

Hoje você ganha e amanhã não, hoje você leva cenário no lombo e amanhã tem quatro camareiras te vestindo, ai. Produção com patrocínio e produção com livro de ouro. Isso não é legal, mas, infelizmente, ainda é a vida do artista.

Ninguém entende essa doença de querer subir no alto e falar coisas para as pessoas, fingir que sente, cantar, dançar, parar para mostrar a lua. Ninguém entende, mas a gente necessita.

Um babaca disse um dia desses que arte não serve pra nada. É, pra quem não tem o que dizer não serve mesmo, mas pra quem precisa da vida, quem entende que o ar é mais do que partículas de oxigênio e hidrogênio, a arte é fundamental.

O mundo é o lugar onde nos encontramos para transformar, um grande laboratório de experiências . A arte cura a alma e faz ferver o chão.

AHHHHHHHHHHHHHH!

A Comuns tá aí!
Fotos de André Pinnola

sábado, 11 de outubro de 2008

um palmo, tesoura e tranças

Mudei para agradar a minha arte. Tirei um palmo do que é muito precioso pra mim: meu cabelo.
Em um tempo em que se brinca com o corpo para agradar aos olhos dos outros, mililitros de silicone, malhação excessiva e botox, eu mexi na minha aparência para agradar a minha arte e poder subir no palco dizendo as coisas que acredito. Sinto falta do meu cabelão, amo e estranho a figura que vejo. Deixei minhas luzes loiras e voltei ao tom castanho escuro. Tudo pela mulher com cabeça de búfalo, tudo por "Silêncio", tudo pelo teatro, e se é pelo teatro, é também por mim.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

DIA ÚTIL


Seria muito bom se não hovesse esse negócio de dia útil e horário bancário. Não dá pra fazer nada. A gente fica espremido em uma convenção capitalista que acha que tudo tem que funcionar igual e na mesma hora que no final das contas não consegue fazer nada. Tudo começa e termina na mesma hora, tudo pára no mesmo dia. Não há alternativa no país dos iguais.

Aí, você quer fazer uma coisa importante não pode porque está trabalhando, e não pode à noite porque já fechou.

Uma tristeza toma a conta do nosso peito quando vemos que passamos o dia inteiro produzindo coisas para os outros e não resolvemos a nossa vida. Aí me dá uma vontade imensa de burlar todas as leis, mentir, fugir e fazer tudo o que eu quero. Adeus trabalho, horário, compromissso. Meu compromisso é comigo. Na minha vida quem vale sou eu. Pode parecer um tom meio egoísta mas, acontece que se a gente não dá uma piradinha dessas no meio da semana ou naquele dia em que estamos cheio de tudo, a gente pira de verdade e aí não vai haver remédio.

O chato é que nem todos entendem o nosso desejo por liberdade e nos crucificam quando decidimos ser mais gentis com a gente. Parece que o mundo tem que ser composto por formigas infelizes que vivem para sustentar um formigueiro de terra.

Não. Sejamos anarquistas, graças a Deus, pelo menos uma horinha por semana. Vamos mandar tudo à merda e irmos à praia em plena quarta-feira às 11 horas da manhã. Quem quiser que vá trabalhar. Mas vamos arcar com o ônus da falta, porque ninguém deve pagar ou entender nossa anarquia, mas também devem fazer o favor de nos deixar em paz.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

um monte de nada. é só isso que aquela professora de artes de uma escola pública do centro da cidade vê naqueles alunos que se amontoam na sala. olhos de nada. vontade de nada.
e ela responde na mema moeda expressando uma vontade contida de fugir, sumir, partir pra sua cama ou pra algum cinema onde esteja passando um filme de felline, só para lembrar que ainda há colorido na vida.
aquela escola, soterrada de papéis, povoada por números, de pessoas, documentos, protocolos, benefícios. instituição.
sim, é só pelo benefício que eles ali estão. eles vão pela tal da bolsa família, ela para não perder a licença prêmio, e ambos vão se aturando.
não, nem tudo é tão cinza asssim. ela também dá aulas para as crianças do primário e com eles respira o que ainda sobra de amor naquele ambiente hostil.
ela sonha com picassos, tarsilas, monet
eles com nike, doze molas, fuzis
ser o cara é legal
ficar em casa é legal
e todo mundo vai brincando de fingir
se degladiam
brigam
brincam
choram
chamam a mãe
a dela trabalha no andar de baixo
as deles estão por aí
leva a medalha quem ganhar jogo de quem odeia mais
e todos de mãos dadas vão juntos sim
o livro está sem folhas
a nota não reprova mais
o uniforme é o shortinho
a professora é mulé, puta, piranha, minha filha, galinha
o aluno é bandido, filho da puta, praga
ninguém é o que realmente é
briga de foice, de giz, bola de papel
eu quero sair daqui, ser a primeira a passar pela porta
e o último, apague a luz

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Calor

Meu amigo disse que o coração dele está na geladeira há três semanas. Eu disse pra ele, então:
"Querido,coloque o seu coração no sol. É só disso que ele precisa."

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

arrumando a casa


Lavar a roupa, limpar a casa, fazer a comida. Pôr tudo em ordem quando a cabeça está parada e no lugar. Coisas simples que deixamos de fazer, pois o dia a dia, o trabalho e a eterna farra nos desgastam e nos separam de nós mesmos. De pouco adianta trabalhar se não há tempo para contemplar, de pouco adianta tantas saídas à noite se não há tempo para ficar só, consigo mesmo, dentro de casa esfriando a cabeça da loucura. Não julgo, mas confesso que não entendo quem consegue ficar nessa loucura sete dias na semana.
Os extremos não me seduzem, a não ser que eu esteja apaixonada, mas mesmo a paixão, tem seu tempo de chegada à realidade. Ai, fica tudo tão confuso pra mim se eu não consigo voltar pra casa, se as coisas estão bagunçadas, fora do lugar. Não sou uma viciada em arrumação, também deixo de fazer a cama quando saio pela manhã e roupas que seriam escolhidas ficam jogadas pelo quarto, mas ficar nessa o tempo todo não dá. A balada entorpece corpos famintos por experiências. Isso é normal quando temos vinte anos, mas , ao nos aproximarmos dos trinta se modifica. O trabalho nos faz sentir mais produtivos e o dinheiro sustenta nossas necessidades e luxos, mas em excesso destrói e tudo o que foi ganho é perdido em consultas e remédios. Não entendo, não entendo.

Tenho conhecidos nos dois extremos e confesso que me assusto. Claro, cada um tem o seu tempo de amadurecimento e suas prioridades na vida, mas me parecem atitudes de quem pretende fugir de si ou correr para um lugar bem longe aonde ainda não se está e nem se sabe se vai chegar. O caminho do meio seria o melhor.

Prefiro sempre o momento da contemplação, que só será possível se não estivermos perdidos em um dos extremos. Extremos esses que se completam, pois geralmente quem procura fugir de si em eternas baladas se perdeu enquanto suava de tanto trabalhar.

Parece que o trabalho está nos sabotando. Parece que o lazer está nos sabotando. Parecemos sabotadores de nós mesmos.

E por mais incrível que isso nos possa parecer, o religare de tudo isso pode ser a própria tarefa doméstica, o ato de arrumar a casa e colocar tudo em ordem. Escolher com cuidado o alimento que irá aquecer seu estômago e que produzirá a sua energia, o parar para olhar a janela e perceber instantes de poesia como o desenho das nuvens e as pessoas que passam. Ficar, só um pouquinho só, trocando o computador por livros e música eletrônica por sons. Ter momentos para contemplar e depois sair para ver a vida: um filme , uma exposição ou uma peça de teatro. Se entorpecer com o que tem vida.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Coisas do S 14

Duas horas de viagem com minha amiga,sim,ela já é minha amiga,a Ane Elize,do Núcleo de Artes. Conversamos sobre várias coisas, questionamentos em relação à arte e à educação e no fim sobrou esse pensamento de Mario quintana:
''A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.''
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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

algumas coisas das quais tenho certeza


se eu não fosse atriz

iria querer ser atriz



se eu não fosse filha da minha mãe

pediria pra ser filha dela



se eu não fosse mulher

trocaria de sexo



se eu não morasse no Rio

me mudaria pra cá


ainda bem que antes de nascer eu entrei nas filas certas
....
Ah! Essa foto aí é do espetáculo "Silêncio",da Cia dos Comuns, onde eu trabalho. Brasília,Recife,Salvador e Macaé,aguardem que estamos chegando. Foto de André Pinnola

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

aula de balé


faço aulas de balé e no intervalo leio Klaus Viana, o anticlássico. Caramba, os dois são pura filosofia de vida e movimento. Não fiz aulas com o Klaus e nem o conheci trabalhando, mas o que ele escreve tem mexido comigo, minha relação com o movimento, o gesto, a arte e a vida. Estou me transformando em outra atriz, outra bailarina, outra artista. E o balé, bem, o balé está me transformando em outra pessoa. As posições, o alongamento, a quebra de obstáculos, o alargamento das dimensões do meu corpo estão alargando as dimensões do meu olhar sobre mim mesma. No balé você não pode mentir se não não faz. Quem estaciona larga o balé porque ele te obriga a se questionar todos os dias pra onde vai, o que quer. A gente trabalha com os nossos limites que não são só os corporais. O bailarino parte do corpo,mas chega na vida.

Como eu disse,não dá pra mentir. Quem mente sai porque não está se trabalhando, está perdendo tempo.

A perna sempre pode abrir mais um pouco, é só relaxar, a virilha sempre pode abrir mais um pouco, a gente sempre pode sofrer menos e se abrir mais um pouco, é só deixar o ar passar, relaxar, deixar a coisa acontecer. E acontece. É superação.

E na hora em que a professora vem e abre mais a sua virilha, força o seu corpo, você se abre mais. Ela não vai sair de cima de você até você se abrir e você vai ter que se abrir. Só se abre para o outro quem está relaxado, e se relaxar o corpo vai, a virilha abre e pára de doer e você superou mais um limite, com a ajuda do outro,mas superou. Porque a vida é assim: as vezes é o outro quem nos ajuda a nos enxergar, a conhecer a nossa força. O outro quando força a passagem força a nossa flexibilidade, e flexibilidade é abertura. Mas só dói pra quem resiste.

Não sei como terminar esse pensamento porque foi algo que me veio hoje no final da aula e é só isso que eu quero dizer, sem maiores inteções a não ser esta já exposta.

domingo, 7 de setembro de 2008

parar


estou parando para dar uma olhada, para respirar fundo e depois seguir em frente, para olhar ao redor e reescolher o caminho.

respirar é colocar ar novo pra dentro e o resto pra fora.

estou assim:dando uma parada pra mim. não importa quem está andando, eu estou na pausa da música, no contratempo do passo e está bom assim. fui eu que escolhi.

vou ficar em cima da árvore observando os insetos e as nuvens, depois decido o que fazer.

casulo.

ainda estou no casulo, dependendo de quem bater eu até posso abrir a porta,mas no momento quero ficar comigo.

sim, estou bem, mas necessito dessa parada. muita informação, e formação também. preciso descansar dessa coisa de toda hora descobrir coisas, parar.

e calar também.

estou exercitando o silêncio, sim, preciso parar também de falar.

condensar a energia.

repito:quero ficar mais tempo comigo.

passo a semana inteira cercada de gente, pessoas que eu amo, meus amigos,alunos, família, todas as pessoas que eu amo, mas sobra pouco tempo para ficar comigo. e nós duas precisamos sentar, conversar, tomar um café, mas sem a presença dos outros. no silêncio

e é por isso que eu estou parando.

parando pra contemplar a paisagem de mim mesma.

escutar os sons, minha respiração.cantar sozinha.

mas tem sempre alguém que me liga. que bom, sou amada e sentem a minha falta, inclusive eu estou sentindo a minha falta e prometo que nessa semana irei fazer mais comanhia pra mim.

boa segunda-feira.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

teatro medíocre, atores mais medíocres ainda

hoje, por força do destino e da televisão do restaurante, fui obrigada a assistir um dos piores teatros do mundo: a campanha eleitoral. Como é sabido de todos os que me conhecem, eu não gosto, não assisto, não suporto, odeio, detesto, abomino televisão. Desde pequena que eu não vejo nenhuma graça naqule caixote iluminado, servindo a daqui de casa somente para passar DVDs,mas, por força maior, tive que jantar assistindo aqueles dentro daquilo. É um teatro medíocre, com atores medíocres e um roteiro mais medíocre ainda. E, se não bastasse, dizendo coisas impossíveis de se acreditar.
Que os políticos fazem curso de teatro, isso já é do conhecimento de todos. Está na hora deles fazerem curso de política e Ciências Sociais, só para aprenderem a prometer. Eles prometem de tudo,até, e inclusive e principalmetne, o que não podem, o que não é da alçada deles. É impressionante! Daí a gente vê o quanto eles consideram a gente um bando de burros. E não é só político doido não, a coisa tá de um jeito que até aqueles que nós respeitávamos um pouquinho, ou que pelo menos parávamos para ouvir estão se embrenhando pelo mesmo caminho. Um verdadeiro FEBEAPÁ. Ai,se Sérgio Porto estivesse vivo!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

momento casulo



momento de casulo, silêncio, contemplação
fico aqui até a primavera

sou borboleta

mas mesmo assim preciso voltar para o casulo as vezes

pra fazer revisão

Há algo de verdadeiramente mágico, na transformação de uma lagarta em uma bela borboleta. Mais que uma mudança, sugere mesmo uma transmutação. Algo bem profundo. Ao se fecharem em si, como crisálida, fecham-se para o mundo e isso permite toda essa transformação, que vem de dentro para a superfície. Elas bem guardam isso, como íntimo segredo. Dentro do casulo, acontece esse momento mágico, sutil que explode em rara beleza,´pois, entre as belezas e mistérios dos jardins, quem quer que tenha imaginado as fadas certamente se inspirou nas delicadas e graciosas borboletas.

voltando ao ponto

as vezes é preciso voltar ao ponto de partida pra construirmos um outro dentro da gente, um outro mais feliz, mais seguro,mais interessante pra gente e pro mundo.
a vida é feita de escolhas e tem momentos em que a escolha melhor é voltar a ser nada pra ser algo.
tem uns livros que eu sempre leio quando estou em crise e outros que eu sempre leio quando estou feliz.
as vezes me sinto incompetente por voltar a ler as palavras que já passaram pela minha cabeça,uma voz que cobra que eu ande pra frente e vá procurar outras coisas, mas aí eu vejo que há a algo naquele livro que eu ainda não absorvi ou que preciso absorver de outro modo. é como ter a mesma conversa com a mesma pessoa,mas em um outro momento, e aí tudo vai mudando de figura.
tem palavras que têm sempre que voltar pra gente como passos de uma coreografia que se repete para ficar sempre melhor, mais apurada,sei lá. só sei que estou lendo um livro que li no mês passado e que preciso ler de novo. daqui a pouco passa, mas está me fazendo bem.
estou crescendo mais um pouquinho, só isso, e ficando de cabeça pra baixo, pra ver a mesma coisa de outro jeito.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A Noviça Rebelde


my heart will be blessed with the sound of music

and I'll sing once more



AAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! Estou cantando até agora!Fui hoje à tarde junto com meus alunos assistir ao mega musical "A noviça rebelde", em cartaz no Teatro Casa Grande. Sim, muito dinheiro, muitos cenários, trocas de roupa, gente pra caramba e até figurante. Mas foi bonito, viu. Sim, antes não havia me interessado em ver porque já fico com o pé atrás de musical, grandes produções,americano,etc, e só fui porque ganhei convite, porque continuo achando um absurdo uma entrada de teatro custar R$120,00. Mas me emocionei com a história do filme que eu assisto e amo desde criança. As vozes são boas, a história a gente já conhece e o luxo, ai, só quem tem patrocínio com mais de seis zeros do lado direito conhece. Tenhos algumas considerações,mas elas não me incomodaram não, eu amo tanto a história que me envolvi, virei público e sai muito feliz do Leblon. Ai, voltei à minha infância, de quando era feliz incondicionalmente. Chorei e tudo. A noviça é linda.Ai, adoro quando vou ao teatro e sou só público. Ah, quer saber de uma coisa? A gente também precisa de um luxo.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

bobagens, besteiras e futilidades

porque a semana passada começou uma merda e foi assim até o final, não quero que essa se repita, então, estou dando um tempo com as coisas sérias da vida. Sim, sou uma mulher muito séria e isso me cansa, me cansa, me envelhece e eu perco a parte boa da coisa. Vamos começar com bobagens, besteiras, futilidades, conversas de final de noite de bar.
Muita gente, por causa do meu corpinho magrinho e da minha altura, me chama de Barbie, Barbie negra, pois é, então, resolvi que hoje vou vestir a fantasia. Procurei por toda a internet uma Barbie de trancinhas,mas não achei, quer dizer, achei,mas não se parecia comigo não, então achei essa daí de baixo, pelo menos não tem peitão e o cabelo tem o mesmo comprimento,né, e ambas gostamos de praia. E como eu quero levar tudo mais leve nessa semana, seguindo a orientação do professor de Yoga, observando de cabeça para baixo, vamos lá, vamos brincando de boneca, com a boneca,ah,sei lá. Vou deixar de lado todas as críticas ao modo de vida da madame e pegar só a parte boa, afinal, a gente também precisa de algumas bobagens para ser feliz.






domingo, 24 de agosto de 2008

de uma outra forma


Pra começar a semana vou fazer o que o professor de Power Yoga orientou:

ficar de cabeça para baixo para ver o mundo de uma outra perspectiva. Ao invés de ver o mundo girar, eu vou girar no mundo.

Boa semana.
Me disseram que eu faço muitas coisas. Sim, eu quero tudo! Ai, estou adorando Power Yoga!rs

domingo

Sábado com cara de Pernambuco, domingo com cara de São Paulo. Nada combina menos com o Rio do que céu acinzentado e ar gelado. Não há como convencer um carioca de que o frio é melhor, de que as cores frias são melhores, de que o cinza é melhor. Cinza, como dizem alguns, é cor clássica, nada mais chato do que um clássico na hora e no lugar errado. Poucos clássicos combinam com o Rio de Janeiro, e um exemplo deles é Flamengo e Vasco no Maracanã, porque faz o dia ferver e as cores estourarem. No mais, clássico gélidos só atrapalham.
Quem gosta de Sampa que pegue o primeiro vôo de volta, o primeiro trem de prata ou o primeiro busão. O negócio de quem mora nesse pedaço do Sudeste é sombra e sol alternadamente e água de coco para resfriar.
Ai, esse frio que não passa...
O que sobra é ir à feira, negociar com vendedores, sorrir paras as furtas multicores das barracas, cheirar as ervas e comprar tapioca.
Domingo tem cara de tapioca e de pastel de queijo com caldo de cana também!
E de encontrar os amigos, chamar alguém para almoçar em casa. Cozinhar enquanto joga conversa fora.
Fiquei assim com Ramon, que prova com muito gosto minhas tapiocas, se diverte no orkut enquanto tiro o suco das laranjas e divide comigo uma cocada de comer com colher.
Domingo tem cara de doce. De tudo o que não dá para preparar durante a semana: a estirada na rede, o passeio sem compromisso, a conversa longa ao telefone, o olhar para a rua despretensioso.
Domingo.
O único problema de domingo é o compromisso firme com a segunda, aquele dia que ninguém agüenta perceber que chegou.
Mas aí, já é outro dia e por enquanto eu prefiro ficar aqui, comendo cocada com a colher, ouvindo músicas escolhidas por uma rádio da web, rindo enquanto converso com a mão segurando a cabeça, sentindo preguiça e rindo. Espera,espera, espera que ainda é domingo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Frida Kahlo


À Alejandro Gómez Arias
Não sei mais o que fazer, já que estou assim há mais de um ano e estou farta. Tenho uma porção de queixas, como uma velha. Você terá de me enrolar em um pano de algodão e me carregar para lá e para cá o dia inteiro. Preciso que você me diga alguma coisa nova, porque realmente nasci para ser um jarro de flores e nunca sair da sala... Acabo de receber sua carta que foi o único momento feliz todo esse tempo. Como eu gostaria de poder explicar-lhe, minutos a minutos, meu sofrimento! Sinto-me sufocada, meus pulmões e minhas costas inteira doem terrívelmente. Fico completamente desesperada e, acima de tudo, você não esta aqui. Preciso muito de você, Alex! Não imagina o que significa para mim cada dia, cada minuto sem você...
Você já sabe tudo o que eu poderia lhe dizer. Fomos muito felizes todo os invernos, mas nunca como neste. A vida esta a nossa frente, é impossível explicar-lhe o que isso significa. É provável que eu ainda esteja doente, mas não sei... o mar, um simbolo em meu retrato, sintetiza minha vida. Você não me esqueceu? Seria quase injusto não acha?
Sua Frieda

palavra guardada

Estou em casa, em frente à tela iluminada, ouvindo uma música que mexe com os meus ingredientes. Tarefa dada pelo meu querido amigo e ,graças a Deus, diretor musical de todos os meus espetáculos, Jarbas Bitencourt. Não sei se é porque estou mexida desde o início da semana, precisando digerir palavras que não se adequam ao meu estômago e que estão entaladas na garganta. Garganta, tudo o que sinto passa e toca primeiro a garganta, e enquanto não organizo e não jogo pra fora, não, não sou boa em engolir, e nem acho que devo, fico perambulando com as palavras dentro da bolsa ou dentro da boca. Desde pequena, aprendi que palavras só fazem sentido quando fora da gente, no ar, no muro, desenhadas em um papel, mas nunca dentro. Palavra guardada é palavra doente, seja ela de amor ou de dor, é palavra doente porque elas foram feitas para ficarem do lado de fora. As palavras saem, dão um passeio pelos ouvido dos outro, batem no peito, na bunda, no coração, na cabeça e depois se vão. Palavra que fica é palavra que corrói e dessa ninguém precisa. Estou sendo corroída por algumas palavras, tentando em um processo búdico e inútil cala-las. Que droga. Algumas palavras têm destino certo e enquanto não deixam o seu remetente machucam e gritam dentro dele. Queria não ter nada para dizer, mas sou uma mulher de palavra.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

pois é

fico impressionada com as mentiras que os adultos contam para as crianças
e com as mentiras que os homens contam para as mulheres
ainda bem que as crianças irão crescer
e que as mulheres irão abrir os olhos

pro último babaca

Entrego teus presentes e com eles tuas mentiras
Devolva-me
Devolva-me minhas lembranças
De como eu era antes de te conhecer
Devolva-me
Devolva-me a tranqüilidade
E a paixão de estar só
Estar bem e só
Devolva-me quem eu era
Antes desses olhos roxos
E de tantos lenços de papel na beira da cama
Devolva-me

Quando vi onde pisava já era tarde
A verdade veio tarde

Devolva-me também
Os passos da coreografia que fiz
Idiota
Do tempo que perdi com piruetas e degagês
Tempo perdido
Ilusão
A ilusão do palcos
Não fica bonita na vida
Vou dançar esse adágio
Como se fosse um minueto

Sim
É tudo muito desconexo
Fiquei desconexa
Só o amor
É côncavo e convexo
Espero que morra!

domingo, 10 de agosto de 2008

Pra semana: Clarice Lispector

"Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto - uivaram os lobos e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir. "
(Trecho do conto 'Os desastres de Sofia', in "Felicidade Clandestina)

sábado, 9 de agosto de 2008

sábado no rio


a cidade maravilhosa está cinza

chega de implicância

amanhã é dia dos pais,uma data que eu sempre detestei. Sim, é por pura inveja sim,afinal,quando eu descobri o que se fazia no segundo domingo do mês de agosto meu pai já tinha se despedido desse mundo, e naquela época,quando a escola era tradicional(será que algum dia ela deixou de ser?), a gente era obrigado a fazer presentinho e dar para os nossos pais, mesmo quem não tinha. Não existia esse negócio de família alternativa não. Eu achava esquisito botar o nome do meu padrinho na linha pontilhada,mas fazer o que se eu tinha que ser igual? Foram anos de dias dos pais brecthinianos. Até o dia em que o primário acabou e os estranhos presentinhos também.

Quando virei professora prometi que nunca, por mais que me implorassem, eu iria fazer coisinhas desse tipo com os meus alunos. Até que na sexta-feira, ao entrar na sala de uma das minhas turmas, vi uma coisa muito legal: elas estavam fazendo o tal presentinho, que eu já olhei de olho torto, mas nem em todos os bilhetinhos estava escrito pai, tinha mãpai, tinha irpai,dimpai,vôpai,vópai,tipai, uma variedade de qualidades de pais, que chamamos carinhosamente de genéricos, e as crianças estavam extremamente felizes em participar daquilo. Era uma festa, famílias diversas, nomes diversos,pais, mães,tias, vizinho,tudo, todos sendo valorizados em suas diferenças. As crianças estavam se divertindo com a situação. Achei divertido também e muito criativo. Vi, pela primeira vez, a minha família alternativa sendo representada e fiquei imaginando como seria o meu cartãozinho, seriam dois: mãpai e dimpai,né. Ai, a minha criança, aquela que achava estranha a linha pontilhada do papel, se levantou da cadeirinha e resolveu,enfim e de bom grado, fazer também o seu presentinho. Foi pintar um cartão pro seu dinpai, pra sua mãpai, pros seus tipais, e claro, pro seu pai.


Eu sempre digo que a minha vida ganhou muitas flores depois que eu passei a dar aula de teatro para as crianças do primário. Muitas flores.

Feliz dia dos mãpais,dimpais, irpais, tipais, vizinhopais,vôpais, vópais, papais e por aí pais.

PS:continuo sem gostar de falar de mim,mas falar de quem não tem pai no dia dos pais não é falar só de mim.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A Filha da Chacrete



Pois é, a Camila,uma das minhas melhores amigas, está lá dando a cara a tapa. Sozinha com as suas lembranças contando as suas histórias para quem quiser ouvir. Dançando, cantando, rindo, chorando, emocionando.
Verdadeira em tudo o que faz, Camila, sem pudores conta tudo da sua vida com a sua mãe, uma ex-bailarina e ex-chacrete , que se permitia viver a vida guiada pela alegria e pela liberdade.
Um projeto antigo, que, enfim, saiu do papel, passou pelo coração e subiu no palco do Teatro Ziembinski.
Vida longa pra Chacrete. Parabéns para Camila.
Vale à pena sim.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

diário de uma atriz-professora de teatro de uma escola municipal(eu)

É sorriso, gritaria, chute, pontapé, briga,mordida, arranhão, cantoria, gargalhada, sorriso, puxão de cabelo, dedo no olho, gente largada no chão, cheiro de biscoito, um em cima do outro, meninas vestidas de rosa, meninos amontoados, criança com nariz escorrendo, perfume de sabonete, corda, elástico, bala, olho brilhando, correria, braços abertos, abraços, beijo estalado, roda de mão dada, tia pra lá,tia pra cá, menino,sai daí de cima, desculpa, foi sem querer, vou chamar seu responsável, já pra direção, qual é a merenda de hoje, presente, faltou, sumiu, recreio, entrada, saída.
Hoje reencontrei meus alunos, depois de uma (quá,quá,quá) semana de férias. Eles estão lindos! Bagunceiros pra caramba(mas eu também sou bagunceira). Bagunceiros e lindos! Ai, ai, ai, sou feliz!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

e dentro de mim
essa vontade que não passa
o que me sobra
é bater na sua porta
esperar você abrir
e entrar

utilidade pública

meu coração está sentado na praça
jogando chumbinho para os pombos

silêncio


você a viu?

eu estou à procura da minha palavra

ela estava aqui

inteira

mais precisamente em minhas mãos do que em meus lábios

cadê?

perdida no caminho

sinto que ela deve estar aqui

como folha e gelo

e não adianta emudecer os lábios

para forjar o silêncio

eu não irei esmagar aquele que a roubou de mim

eu não posso conviver com um homem sem palavra

eu a quero

eu preciso da palavra

preciso dela para burlar meus sentimentos
pra não me expôr

pra me derramar

para não gritar os uivos da minha fera

a palavra...a palavra



ps: esse texto não é meu, é do meu amigo-irmão-alma gêmea-pedaço de mim Ângelo Flávio, integra o texto do espetáculo "Silêncio" da Cia dos Comuns, onde trabalho como atriz.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

segunda-feira

procurei em mim e achei em Eduardo Galeano, e é com ele que eu começo a semana:

"Quem tem medo de viver não nasce."

e mais uma vez:as palavras!

estou com a boca cerrada

tenho palavras que querem sair

mas que eu não quero falar

terça-feira, 29 de julho de 2008

e abre o portão

Era adulto, criança, velho, até as folhas queriam ir embora. Não sobrou uma só alma, um só vestígio de pessoa lá dentro. Todos saíram no primeiro indício do meio dia.
Alguns lá de fora até tentavam entrar, mas ai que não tinham nem espaço para passar.
Olhos ofegantes, como quem pede socorro, íam encontrar suas vidas lá fora e cada um que conseguia tocar com os pés na rua sentia o frescor no rosto e até remoçar.
Pareciam nunca mais querer voltar pra aquele lugar. Pareciam que iriam sumir para o resto de suas vidas, tomar um caminho pra bem longe. Pareciam, pois quando as férias de julho acabarem todos irão voltar.

assim

gosto de ficar entre os meus
gosto de ficar com os meus
gosto dos meus
também gosto dos outros
gosto de ficar entre os outros
gosto dos outros
e faço de alguns outros meus

segunda-feira, 28 de julho de 2008

declaração de amor


vai sair meio tortinho

vai sair de uma vez só
meio atropelado

meio desajeitado

mas é tudo o que eu tenho para te dizer:

te amo com todos os coraçõezinhos que te desenhei

Férias?Quá,quá,quá.

Nunca falo de mim, mas agora resolvi fazer um ensaio e mostrar só um pouquinho da minha vida, se não, eu acho, não é blog.
Estou de férias, elas começaram exatamente as 14:35 de sexta-feira passada, último horário de aula. Graças a Deus! Se bem que isso, essa pequena e porca uma semana, não pode ser chamada de férias, é mais uma condicional, tanta para nós, professores, quanto para os alunos.
Férias, há, há,há, com o sorriso amarelo mais sem graça do mundo. E o pior é que eu sou e me sinto obrigada a dizer que antes isso do que nada porque já chegamos em julho enlouquecidos para que dezembro chegue, e é só nessa hora, repito, só nessa hora que achamos que o tempo não passa, pois já trabalhamos tanto e ainda temos o segundo semestre inteiro pela frente, pelo menos já deixamos 7 meses para trás.
Meu Deus, que escola é essa que ninguém quer ficar sem, mas que ninguém aguenta ficar dentro?
Sinceramente, quando as crianças estudavama menos gostavam mais da escola porque dava saudade ficar tanto tempo longe, agora dá azia ficar tanto tempo perto.
Vou aproveitar para fazer nada, estou tão cansada que a possibilidade de sair do meus espaço para qualquer outro lugar do mundo já me desanima. Quero mesmo é o ócio, no sentido mais concreto da palavra: FAZER NADA,NADA,NADA. É só isso que eu quero, nem que seja por uma semana. Depois eu volto à labuta, feliz porque em agosto tem dia do mês, em setembro chega a primavera, outubro eleições e alguns dias de escola fechada e, ai, novembro pode ter segundo turno e em dezembro dizemos novamente adeus, mesmo que seja quase no dia 23.
O último apague a luz.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Dia Internacional da Mulher Negra Latina e Caribenha


Programação
18:00
Abertura do Evento
Fabiana Magno de Lacerda e Ana Beatriz Silva

18:30
Mesa Tema
Neusa das Dores Pereira- Coisa de Mulher
Magali Almeira- UERJ e ProAfro
Débora Almeida- Cia dos Comuns
Flávia Souza- Aqualtune(Mediadora )
19:45 – Entrega do prêmio LENORA Mendes
Apresentação:Katiú scia Ribeiro

Premiadas
Marlene Mendes
Raquel Silva – ex -paciente da Lenora
Magali Almeida – Professora da UERJ e do ProAfro
Márcia Pererira Rosa - Assistente social Craes Homero
Dona Nélia – Trabalho com adolescentes negros e negras no Arará
Thatiane Silva - Coletivo de Estudantes Negros de Cuba
Luize Silva- coordenadora do espaço mulher SMS-RJ

20:40
Encerramento
Allyne Andrade –Membro do Aqualtune

21:10 -
Confraternização

quarta-feira, 16 de julho de 2008


pra que eu seja feliz,tenho que virar tudo de cabeça pra baixo,mudar a ordem das coisas, propor o diferente e assumir que a maioria gosta mesmo do igual. mas eu não sou igual, não sinto igual, não ajo igual,quero o que todo mundo quer,mas não tenho paciência para esperar.
Foto de Katarina Sokolova

o medo serve para rirmos de nós mesmos

segunda-feira, 14 de julho de 2008

de mim

eu falo alto, rio alto,ando de vermelho,decido antes de todo mundo e sou um pouco mandona
me misturo com as crianças,tenho medo de ficar sozinha,ando devagar no escuro
invento histórias na minha cabeça,passo trote para os amigos, escrevo cartas de amor
sou um pouco mal humorada,adoro contar piadas,não levo desaforo pra casa
sou brigona,chorona,carente
sou gente
e finjo ser algum tipo de super herói
me comovo com a dor alheia e escondo a minha
choro no banheiro sozinha
mas depois vou pedir colo pra alguém
adoro ser mimada, odeio frescuras, mas não como com as mãos
o molho do cachorro quente sempre cai no meu vestido
faço o estilo fatal,mas adoro andar descalça na terra
brincar de rodar pião
e não assumo quando estou a fim
ah,são tantas de mim

sexta-feira, 11 de julho de 2008

isso é só pra quem muita sorte

eu sempre digo isso pra ela,
repito a todo instante:
-se você não fosse minha mãe eu iria querer que fosse.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

que merda!que merda!que merda!

que merda é viver em um país sem lei, em um país onde todos os recursos e serviços essenciais estão nas mãos de empresas que só pensam em lucrar de forma agressiva e predadora em cima das pessoas e que têm respaldo sobre isso. que merda. que merda saber que você está certa, ouvir do mundo que você está certa e mesmo assim saber que, porque você tem um CPF no lugar de um CNPJ vai mesmo é se foder. que merda!
há dois meses tento resolver minha pendenga com a uma concessionária de serviço essencial para a sobrevivênvia urbana,luz, e a única coisa que ouço é que eu estou certa e que mesmo assim eu tenho que pagar a minha conta e esperar sentada, percebo também que a concessionária quer que eu me dane, quer o que eu pague o que eu não consumi, quer colocar o meu nome no SPC e quer que depois disso tudo eu vá para a puta-que -pariu. como pode? como pode? e uma amiga minha ao tentar processar uma empresa de telefonia ouviu de um advogado que o fato de essa empresa ser campeã de reclamações fez com que ,de agora em diante, nenhuma ação poderá mais ser movida contra ela porque os juízes estão dando causa ganha para essa porcaria de empresa. com pode? como pode?
me lembro nesse momento de quando eu tinha lá pelos meus 18 anos e fui para a frente da Bolsa de Valores do Rio lutar para que a Embratel não fosse privatizada e das manifestações em que participei em favor de tantas estatais, e do resto dos meus amigos de faculdade dizendo "Eu não tenho nada com isso." Como não tem? Naquela época já dizíamos que ficaríamos nas mãos do capital privado e dos interesses das grandes empresas, que não teríamos direito a nada, mas todos só pensavam em acabar com as regalias do funcionalismo público, vingança queriam e não uma política justa. que merda. hoje estamos todos nas mãos dessas empresas e o único direito que temos é de pagar. somos chamados até de consumidores, mas nem todos conseguimos consumir de verdade. como pode? como pode?
a realidade é virtual não só no sentido da informática, mas no da falta de escrúpulos, cidadania, direitos, percepção, só temos o direito de pagar, e caro,muito caro por isso tudo.
e vamos vivendo, lutando, reclamando ou escondendo a cabeça na areia e pagando, sendo esse último o nosso único e verdadeiro direito.
o mundo de hoje,no Brasil capetalista de início de século só pode ser habitado por dois tipos de pessoas: os fortes e os alienados, o resto fica batendo cabeça esperando uma nova ordem chegar.

domingo, 6 de julho de 2008

hum...


o búfalo, a mulher e as rosas



A imagem dessa mulher me persegue e quando penso que posso,enfim, aposentar a heroína, eis que a identidade secreta se revela e mais uma vez tenho que me armar e lutar. É difícil ser algo menor do que todos esperam,pois já se acostumaram com a mulher com cabeça de búfalo e o próprio búfalo se sente acorrentado quando não aparece. Difícil é fazê-los entender que o búfalo também precisa de calor, de tomar banho de rosas, de perfume. Esse búfalo também é mulher.

sábado, 5 de julho de 2008

cheio e vazio

e de vestido vermelho e com uma boneca nas mãos, a menina continua olhando por cima do portão esperando você voltar

momento de criação artística

Estou me revisitando e abrindo as portas para que saiam todos os fantasmas que moravam comigo. Ontem sentei na mesa do café da manhã e antes de sair para o trabalho conversei com um deles, tomamos chá, brigamos, relembramos momentos passados e ele me explicou coisas que antes eu não entendia, pareciam sem resposta. Depois, ele se levantou com cuidado, tomou a última xícara de chá, comeu um pedaço de bolo e antes que o vento batesse a porta ele saiu, dizendo que morar comigo já não fazia mais sentido.


(Foto de karolina sokolova)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Carta para Angelo Flavio

Quando encontro você é como se eu encontrasse um pedaço meu que estava perdido, sumido, um pedaço essencial da minha alma que surge a cada momento em que conversamos e trocamos experiências, carinhos, declarações. És o único homem que ouviu tantas vezes da minha boca a expressão “te amo”, o único que conseguiu descobrir quem sou. Podem até parecer cafonas essas minhas palavras, mas o amor que sinto por você nunca senti por ninguém na minha vida. Faço questão de escrever-te isso, pois só assim, através da palavra, posso eternizar o meu sentimento e trazer à luz a nossa alegria. Meu amigo, meu irmão, meu amor. Te a amo, te amo e te amo tantas vezes quantas são os movimentos da minha respiração.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Flores sagradas


desde que comecei a fazer Ikebanas, converso todo dia com as flores. Elas são minhas parceiras e dividem o apartamento comigo. Ikebana é a arte de harmonização través das flores. Trabalha a paz de espírito através da observação e da contemplação da arte.

Conversei com elas essa noite, foi tão esclarecedor.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Meus olhos

Isso de ficar andando na rua observando tudo o que acontece as vezes dói. Dói muito ter sempre um olhar crítico. Queria eu as vezes me alienar, achar tudo lindo e me preocupar somente com o capítulo da novela e por onde anda o meu namorado, mas como se na segunda é criança presa, na terça é exército contra o povo, na quarta é menino cheirado de cola no ônibus, na quinta é corpo no lixão,e na sexta, e no sábado e no domingo é uma sucessão de eventos trágicos e vergonhosos sobre a vida de uma população cada vez mais encurralada pela sua condição social de preta, nordestina, pobre e favelada?

leia também: http://amocadosegundoandar.wordpress.com/

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Tem muita criança precisando de mãe nesse Rio de Janeiro.Muita criança.


Essas crianças não precisam de muita coisa, nem de casaco de marca e nem do tênis da moda, nem de uma escola moderna e nem de falar Inglês. Precisam mesmo é de alguém pra dar amor e palmada: precisam de mãe.

domingo, 15 de junho de 2008

De: Camille Para: Rodin


Senhor Rodin,

Como não tenho nada para fazer, estou lhe escrevendo mais uma vez. Não pode imaginar como está bonito o tempo em Islette. Hoje comi na sala do meio que serve de estufa, de onde se vê o jardim dos dois lados. A sra. Coucelles me propôs (sem eu ter lhe dito absolutamente nada) que, se fosse do seu agrado, você poderia comer aqui de vez em quando, e até mesmo sempre. (Creio que ela tem muita vontade que isso aconteça.)E é tão bonito, e é tão bonito. Tenho passeado no parque, tudo está podado, feno, trigo, aveia, dá para andar por toda parte, é um encanto.Se você for bonzinho, e cumprir sua promessa, vamos conhecer o paraíso. Você terá o quarto que quiser para trabalhar. Acho que a velha vai adorar. Ela me disse que eu devia tomar banho no riacho, onde a filha dela e a empregada tomam banho sem perigo nenhum. Com sua permissão, farei a mesma coisa, pois é um grande prazer, e isso me permitirá deixar de ir aos banhos quentes em Azay.Você seria muito gentil se me comprasse um pequeno traje de banho azul-escuro com debruns brancos, de duas peças, blusa e calça (tamanho médio), de sarja, no Louvre ou no Bon Marché ou em Tours!Eu durmo nua para imaginar que você está aqui... nuazinha... mas, quando acordo, não é mais a mesma coisa.
Um beijoCamille
Sobretudo não me engane mais.
Foto:reprodução Camille Claudel por Auguste Rodin

quinta-feira, 12 de junho de 2008

desliguei

Hoje não penteei o cabelo, não escovei os dentes e nem tirei o pijama. Almocei as 6 horas da tarde e agora não estou fazendo nada.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Mas a gente também é feliz,pô!

Os meninos e as meninas nos seus olhos têm a luz.Vaga-lumes que iluminam todos os cantos do mundo.Os teus sonhos não me contem, deixa que eu adivinho.São segredos enfeitando as curvas do meu caminho.As crianças são anjos,moleques, são bruxos e fadas correndo na terra, brincando de vida, de tempo passando,1, 2, 3 e já!Cada dia nascente abençoa o que aprende esse teu coração a criança é bonita, ela é de São Cosme e de São Damião.
(Angelus de Bia Bedran/foto de André Mantelli)

terça-feira, 10 de junho de 2008

Pra semana: um pouco mais de compaixão,tá?

Está entalado. Não consigo tirar da minha mente a imagem daquele menino sentado no banco de uma delegacia. Conversando com um policial como se fosse um adulto. Não consigo parar de pensar. O que tem mais me assustado na vida não são as crianças tendo atitude de adultos, pois até mesmo, na mais louca ação, há sempre o olhar infantil, mesmo que ele esteja escondido em um rosto amadurecido, em uma violência insensata. Me assusto mais com os adultos que não enxergam a idade que aquele feito de réu tem, que o desprezam em sua pequeneza e o tratam como um ninguém. Não, eu não sou contra a punição, eu mesma já fiquei de castigo por coisas menores e aprendi a lição, mas não posso deixar de atentar para a idade desses que cometem coisas que vão na contramão, desses que vivem na contramão, são deixados pelo caminho, são expulsos antes mesmo de entrarem em algum lugar. Não dá. Não acredito que valem menos do que qualquer outra criança do mundo, que são bandidos perdidos, quero acreditar que são crianças, pois são, na idade cronológica, mental, nas brincadeiras, na altura, nas fraquezas e nas franquezas,são crianças, que desceram em algum outro ponto da pista ou que perderam o ônibus, mas que ainda podem continuar na estrada, basta só que alguém sinalize com firmeza e compaixão o caminho. E com amor, a única coisa que, realmente, qualquer ser dessa Terra precisa.

W.S.14 anos


Aquele menino,
com a sua baixa estatura e os seus quatorze anos,
bem que poderia ser meu filho.
Com a cabeça baixa, tocando tudo com seus olhos assustados,
bem que poderia ser meu filho.
Fez careta pra mulher,
levou sua bolsa,
bateu na cara,
não pediu desculpas e assumiu tudo com vaidade,
bem que poderia ser meu filho.
Entrou calado na viatura,
não precisou de algemas,
contou mentiras e verdades, sem se importar muito com as coisas,
bem que poderia ser meu filho.
Eu até te bateria de cinto,
uma semana de castigo,
daria o peito durante doze meses e amor pela vida inteira,
mas ele não é meu filho.
(Desenho de Cândido Portinari)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Há,há


Ele me critica porque me comporto feito criança: ligo na hora em que me dá na cabeça, saio sem dizer adeus e quando o encontro pulo no seu pescoço. Porque rio alto, falo a verdade sem pensar e não consigo guardar segredo. Porque ando descalça pela casa e no corredor do prédio. Porque meus pés estão sempre com terra e quero que seja sempre domingo de sol. Porque digo que detesto sentir saudades e sem mais nem menos apareço na casa dele. Porque convido sempre em cima da hora e não aceito não como resposta. Porque quero que tudo tenha um porque e arranjo sempre um jeito doce de responder. Porque choro quando o filme fica triste e vejo tv falando mal dos outros. Porque invento palavras novas para o nosso bom Português. Ele me critica porque sempre tomo a iniciativa e não deixo a parte do homem pra ele, porque conserto sozinha o chuveiro, mas não consigo matar a barata no banheiro. É sempre por isso que ele me critica, e fica comigo, e ri comigo, e me chama de chata e liga pra saber por que eu não liguei, pra ter com quem poder jogar Banco Imobiliário ou brincar de detetive tentando descobrir da janela da minha casa quem são as pessoas que passam pela rua. E pra andar de fusquinha comigo, não o meu, o dele, eu mesma detesto dirigir, prefiro enfiar os pés no porta-luvas.

domingo, 8 de junho de 2008

caiu a ficha


Agora que consegui dizer adeus,
sinto como se estivesse acordado de um transe.
Sim, eu estava hipnotizada
sem conseguir enxergar o que
estava a um palmo do meu nariz
Miopia emocional,
cegueira racional,
estrabismo passional.
Vendo tudo trocado,
desfocado,
a verdade em borrões.
Alívio é dizer adeus.
Tanta coisa pra fazer,
prateleiras para arrumar.
Um espaço do meu tempo desperdiçado.
Quero parar de aprender somente

quando caio do cavalo
quero parar de aprender com os erros
quero admirar meus acertos
e parar de correr atrás do meu rabo
parar de buscar o vento.
Ser mais dona de mim e das minhas paixões.
Acordei de um sonho
e vi um dia lindo à minha espera.
Estou pronta para outra e essa outra sou eu.
Se o rouxinol não canta esperarei até que ele cante.
Na verdade ele cantou, cantei junto com ele e depois eu cantei pra ele. Agora que vejo que cantei para um surdo entendo porque ele não canta. Então, se o rouxinol não canta eu dou um tiro nele, afinal a fila anda e quem não faz a sua parte se fode. Agora eu preciso mesmo é do silêncio , e é ele que eu vou pregar pela semana. Shuuuu!Silêncio!!!

domingo, 1 de junho de 2008

Pra semana

Nessa semana chuvosa de outono, prenúncio de um inverno frio e inspirador, padrinho de amores e de crianças nascidas entre os meses de janeiro e março, faço um convite a todas e todos: vamos nos apaixonar! Por qualquer causa ou coisa, por um alguém, por um motivo, uma canção ou acontecimento, por qualquer coisa capaz de fazer com que nossos pensamentos passeiem pelo futuro e passado enquanto nossos corpos fervem e bailam no presente.
Dedico,então,essa canção de Vinícius de Moraes como trilha da semana.

O Velho E A Flor
Vinicius de Moraes/Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho / Bacalov
Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor assim falou:
O amor é o carinho
É o espinho que não se vê em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Iansã, de Caetano Veloso


Senhora das nuvens de chumbo

Senhora do mundo dentro de mim

Rainha dos raios, rainha dos raios

Rainha dos raios, tempo bom, tempo ruim

Senhora das chuvas de junho

Senhora de tudo dentro de mim

Rainha dos raios, rainha dos raios

Rainha dos raios, tempo bom, tempo ruim

Eu sou o céu para as tuas tempestades

Um céu partido ao meio no meio da tarde

Eu sou um céu para as tuas tempestades

Deusa pagã dos relâmpagos

Das chuvas de todo ano

Dentro de mim, dentro de mim

terça-feira, 13 de maio de 2008

A gente se vê

O brilho das miçangas da sua saia contrastam com o cinza do ar e o pouco frio que faz naquele domingo de outono é o suficiente pra enrugar os pés daquelas sandálias que pisam as ruas da Zona Sul. “A gente se vê” foram as palavras finais da noite que parecia ter sido boa. “A gente se vê”, expressão usada pelos relacionamentos vídeo-clipes-contemporâneos para dizer “Até nunca mais”. “A gente se vê”, mentira dita por quem quer falar a verdade de outra forma.


Se não pode me acompanhar, me deixe, não me olhe como uma flor muito bonita desesperada por qualquer jarro d’água, que isso eu não sou.
Se não pode me esperar, me deixe, não pense que porque estou sozinha aceitarei qualquer trocado de amor, que comigo não.
Não me iludo buscando qualquer companhia, não quero gozar 20 minutos e depois passar tantas 24 horas sozinha.