segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Meu pedaço


Estou lendo um livro que está me devorando, me consumindo, não sai da minha pele e dos meus olhos nem quando eu não o leio, e só ainda não terminei porque na viagem de volta eu estava cansada demais e muito tocada por ter estado mais uma vez com a minha família.

Eu amo desarvoradamente, incondicionalmente,irracionalmente, a minha família. É de lá que eu venho e pra onde volto quando estou triste ou feliz, vazia ou cheia, na felicidade ou no desencanto. Não sei como é a vida de quem só conheceu o desamor, pois com os meus eu me sinto amada a cada milionésimo de vida.

Fui ao aniversário do meu primo-irmão-afilhado Franklin. Eu amo o Franklin, crescemos juntos, eu , ele Daniela e Flávio e de dentro de mim só sai muito amor pra eles. Metade do que eu sei eu devo a eles, minhas alegrias, esperanças, ilusões de criança, tudo. Das brincadeiras de pipa e super heróis aos chutes e ponta-pés. Do apelido que eu odiava, do meu mau humor, dos sorrisos. Ai... Reinávamos os quatro com as nossas fantasias e brigas, sempre juntos.

Meus tios e tias, primos mais velhos, avó, mãe, pai! Família é um dom de Deus, quem recebe não quer largar.

Família é espelho, beijo e cicatriz, é muita história pra contar.

Referencia pra lucidez.

E aí, vem a Ponciá, eu acho que eu não quis ler na volta porque ela tem e não tem tudo aquilo que eu falei e sofre por isso, pois não consegue reencontrar os seus, perde o seu espelho. Só se encontra na arte.

Na minha família todo mundo é artista, mas cada um escolheu um palco pra atuar.

Quero muito entrar em cartaz com eles sempre, não quero o braço cotó de Ponciá. Quero ficar com o meu pedaço.

Amo desesperadamente Ponciá. Ela fala dos negros, da mulher e da arte. Fala da falta do espelho e faz refletir sobre o que realmente importa. Amo Conceição Evaristo que conseguiu transpor para as páginas de um livro a falta e o sabor da vida.

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