sexta-feira, 26 de setembro de 2008

um monte de nada. é só isso que aquela professora de artes de uma escola pública do centro da cidade vê naqueles alunos que se amontoam na sala. olhos de nada. vontade de nada.
e ela responde na mema moeda expressando uma vontade contida de fugir, sumir, partir pra sua cama ou pra algum cinema onde esteja passando um filme de felline, só para lembrar que ainda há colorido na vida.
aquela escola, soterrada de papéis, povoada por números, de pessoas, documentos, protocolos, benefícios. instituição.
sim, é só pelo benefício que eles ali estão. eles vão pela tal da bolsa família, ela para não perder a licença prêmio, e ambos vão se aturando.
não, nem tudo é tão cinza asssim. ela também dá aulas para as crianças do primário e com eles respira o que ainda sobra de amor naquele ambiente hostil.
ela sonha com picassos, tarsilas, monet
eles com nike, doze molas, fuzis
ser o cara é legal
ficar em casa é legal
e todo mundo vai brincando de fingir
se degladiam
brigam
brincam
choram
chamam a mãe
a dela trabalha no andar de baixo
as deles estão por aí
leva a medalha quem ganhar jogo de quem odeia mais
e todos de mãos dadas vão juntos sim
o livro está sem folhas
a nota não reprova mais
o uniforme é o shortinho
a professora é mulé, puta, piranha, minha filha, galinha
o aluno é bandido, filho da puta, praga
ninguém é o que realmente é
briga de foice, de giz, bola de papel
eu quero sair daqui, ser a primeira a passar pela porta
e o último, apague a luz

2 comentários:

Liana Pinheiro Ferreira disse...

como vc conseguiu colocar td as palavras do coração meus e d muitas tão verdadeiramente solta ao vento e presas ao coração tão doloridaente
parabéns

Débora Almeida disse...

só está escrita a realidade,a verdade. só isso