segunda-feira, 8 de setembro de 2008

aula de balé


faço aulas de balé e no intervalo leio Klaus Viana, o anticlássico. Caramba, os dois são pura filosofia de vida e movimento. Não fiz aulas com o Klaus e nem o conheci trabalhando, mas o que ele escreve tem mexido comigo, minha relação com o movimento, o gesto, a arte e a vida. Estou me transformando em outra atriz, outra bailarina, outra artista. E o balé, bem, o balé está me transformando em outra pessoa. As posições, o alongamento, a quebra de obstáculos, o alargamento das dimensões do meu corpo estão alargando as dimensões do meu olhar sobre mim mesma. No balé você não pode mentir se não não faz. Quem estaciona larga o balé porque ele te obriga a se questionar todos os dias pra onde vai, o que quer. A gente trabalha com os nossos limites que não são só os corporais. O bailarino parte do corpo,mas chega na vida.

Como eu disse,não dá pra mentir. Quem mente sai porque não está se trabalhando, está perdendo tempo.

A perna sempre pode abrir mais um pouco, é só relaxar, a virilha sempre pode abrir mais um pouco, a gente sempre pode sofrer menos e se abrir mais um pouco, é só deixar o ar passar, relaxar, deixar a coisa acontecer. E acontece. É superação.

E na hora em que a professora vem e abre mais a sua virilha, força o seu corpo, você se abre mais. Ela não vai sair de cima de você até você se abrir e você vai ter que se abrir. Só se abre para o outro quem está relaxado, e se relaxar o corpo vai, a virilha abre e pára de doer e você superou mais um limite, com a ajuda do outro,mas superou. Porque a vida é assim: as vezes é o outro quem nos ajuda a nos enxergar, a conhecer a nossa força. O outro quando força a passagem força a nossa flexibilidade, e flexibilidade é abertura. Mas só dói pra quem resiste.

Não sei como terminar esse pensamento porque foi algo que me veio hoje no final da aula e é só isso que eu quero dizer, sem maiores inteções a não ser esta já exposta.

2 comentários:

Ramon Nunes Mello disse...

'só poderia crer num deus que soubesse dançar'. nietzsche, assim falou zaratustra.

Juliana Desbra Vando disse...

Meu bem, vc não precisa terminar o pensamento, não. Ele já veio pronto, com começo, meio e fim. Quem lê, agradece por vc ter traduzido de forma tão bela o que nem sempre conseguimos expressar.Um beijo, Ju