quarta-feira, 17 de setembro de 2008

arrumando a casa


Lavar a roupa, limpar a casa, fazer a comida. Pôr tudo em ordem quando a cabeça está parada e no lugar. Coisas simples que deixamos de fazer, pois o dia a dia, o trabalho e a eterna farra nos desgastam e nos separam de nós mesmos. De pouco adianta trabalhar se não há tempo para contemplar, de pouco adianta tantas saídas à noite se não há tempo para ficar só, consigo mesmo, dentro de casa esfriando a cabeça da loucura. Não julgo, mas confesso que não entendo quem consegue ficar nessa loucura sete dias na semana.
Os extremos não me seduzem, a não ser que eu esteja apaixonada, mas mesmo a paixão, tem seu tempo de chegada à realidade. Ai, fica tudo tão confuso pra mim se eu não consigo voltar pra casa, se as coisas estão bagunçadas, fora do lugar. Não sou uma viciada em arrumação, também deixo de fazer a cama quando saio pela manhã e roupas que seriam escolhidas ficam jogadas pelo quarto, mas ficar nessa o tempo todo não dá. A balada entorpece corpos famintos por experiências. Isso é normal quando temos vinte anos, mas , ao nos aproximarmos dos trinta se modifica. O trabalho nos faz sentir mais produtivos e o dinheiro sustenta nossas necessidades e luxos, mas em excesso destrói e tudo o que foi ganho é perdido em consultas e remédios. Não entendo, não entendo.

Tenho conhecidos nos dois extremos e confesso que me assusto. Claro, cada um tem o seu tempo de amadurecimento e suas prioridades na vida, mas me parecem atitudes de quem pretende fugir de si ou correr para um lugar bem longe aonde ainda não se está e nem se sabe se vai chegar. O caminho do meio seria o melhor.

Prefiro sempre o momento da contemplação, que só será possível se não estivermos perdidos em um dos extremos. Extremos esses que se completam, pois geralmente quem procura fugir de si em eternas baladas se perdeu enquanto suava de tanto trabalhar.

Parece que o trabalho está nos sabotando. Parece que o lazer está nos sabotando. Parecemos sabotadores de nós mesmos.

E por mais incrível que isso nos possa parecer, o religare de tudo isso pode ser a própria tarefa doméstica, o ato de arrumar a casa e colocar tudo em ordem. Escolher com cuidado o alimento que irá aquecer seu estômago e que produzirá a sua energia, o parar para olhar a janela e perceber instantes de poesia como o desenho das nuvens e as pessoas que passam. Ficar, só um pouquinho só, trocando o computador por livros e música eletrônica por sons. Ter momentos para contemplar e depois sair para ver a vida: um filme , uma exposição ou uma peça de teatro. Se entorpecer com o que tem vida.

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